Indústria Americana do Netflix e as relações de trabalho com chineses
É o fim do American Dream para a pequena cidade de Moraine, Ohio. Em dezembro de 2008, a unidade de produção da General Motors da localidade, fonte do sustento da maioria das famílias, fecha as suas portas. Sem a atividade industrial que por tantas décadas definiu a pequena Moraine, a cidade entra em declínio, vendo ruir a sua economia e sua identidade. Nesse cenário de miséria e desespero, a solução para os problemas da cidade veio de onde ninguém esperava: da China.
Fuyao Glass Industry Group Co. Ltd, gigante chinês da produção de vidros automotivos, em 2016, adquire a antiga instalação da fábrica da GM em Moraine, tomando para si a missão de reerguer a cidade e alavancar a produção dos amigos americanos. Demonstrando sua generosidade e esforçando-se ao máximo para adaptar-se à tradição americana, o senhor Cao, presidente da Fuyao, decide recontratar grande parte dos funcionários da antiga GM. A alegria espalha-se por toda a cidade, com filas de trabalhadores de currículo na mão, prontos para contribuir com a nova fábrica, que se tornaria o novo coração da cidade.
Como é apresentado no trailer do documentário, apesar do fracasso da GM, o pano de fundo inicial sobre o qual se desenha o documentário American Factory é de esperança. Ninguém poderia prever, no entanto, que a lua-de-mel entre chineses e americanos não passaria do primeiro relatório de produção. Protegidos por leis trabalhistas e conscientes dos seus direitos como trabalhadores, os americanos passar a repelir com cada vez mais intensidade a cultura de trabalho chinesa imposta na Fuyao.
Aos poucos, as boas relações entre chineses e locais começam a se deteriorar. As acusações começam a vir dos dois lados e a produção piora ainda mais. Os americanos acusam os chineses de desrespeito às leis americanas, inclusive as de segurança de trabalho. Os chineses, por sua vez, criticam a lentidão dos americanos e suas exigências exageradas no ambiente de trabalho.
Como essa história vai terminar?
Não vou contar mais para não dar spoiler. Mas se você trabalha ou pretende trabalhar com chineses, American Factory é para você. Mesmo sendo um documentário sobre um ambiente fabril, muito do que se observa ali pode ser detectado também em outros ambientes de trabalho compartilhados entre chineses e ocidentais em geral. É impressionante como os padrões dos conflitos entre chineses e americanos são similares aos que presenciei aqui no Brasil. Quem já leu o meu artigo 13 dicas para fazer negócios e trabalhar com chineses vai ver como o artigo também se aplica ao documentário American Factory.
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